Congelamento de óvulos: a independência reprodutiva feminina

por Ângela Núbia Carvalho Sousa publicado 07/09/2023 18h56, última modificação 07/09/2023 18h56
Procedimento cresceu 64% no Brasil entre 2017 e 2020

O congelamento de óvulos tem se tornado cada vez mais conhecido do público devido à adesão de pessoas famosas, como as atrizes Paolla Oliveira, Cléo Pires e Mariana Ximenes e a cantora Ivete Sangalo, que falam abertamente da decisão. O congelamento concede à mulher independência e autonomia para seu planejamento familiar e tira de suas costas a luta contra o relógio biológico. No Fertipraxis Centro de Reprodução Humana houve um crescimento pela procura do procedimento de 38% entre 2017 e 2020. A partir de 2020 a demanda aumentou, chegando a um número de ciclos 62% maior em 2022 em relação a 2020.

 

Qual a idade ideal para o congelamento de óvulos?

 

As mulheres nascem com uma quantidade específica de óvulos - cerca de 2 milhões - e com o passar dos anos, esse número vai diminuindo assim como sua qualidade. Os especialistas em reprodução humana aconselham o congelamento de óvulos entre 30 a 37 anos para conservar as células mantendo as suas condições fisiológicas para uso futuro, além de preservar a autonomia reprodutiva. 

 

"As mulheres que querem ser mães devem fazer um planejamento familiar e reprodutivo e repensar sua trajetória a partir dos 30 anos. Nesse caso, é preciso avaliar a sua reserva ovariana e verificar se seria ou não o caso de congelar óvulos. Esta é uma questão de interesse fundamental para as mulheres hoje, quando a formação das famílias está claramente postergada e o relógio biológico feminino não para", afirma a especialista em reprodução humana e diretora da Fertipraxis, Maria do Carmo.

 

Dados da Rede Latino-americana de Reprodução Assistida (REDLARA) - que tem no Registro Latino-Americano o compilado de pelo menos 200 centros de reprodução em 16 países - mostram que entre os anos de 2017 e 2020 houve um crescimento de congelamento de óvulos no Brasil na ordem de 64%.

 

 

"Apenas as regiões Andinas e Caribe apresentaram uma redução de 5% nos procedimentos de criopreservação relatados em relação ao ano de 2017, seguramente impactados não só pela pandemia como também por algumas questões econômicas mais graves como especialmente o caso da Venezuela", diz Maria do Carmo, que foi presidente da REDLARA.

 

Segundo a especialista, nitidamente hoje, há uma procura maior da criopreservação entre mulheres de 30 e 37 anos. "Quadro mais acentuado a partir de 2019, mesmo e, provavelmente também, a partir da pandemia, que ressaltou nos períodos difíceis e de confinamento, a importância de se priorizar esta preservação para um momento futuro", complementa.

 

"Mulheres após os 37 anos também podem congelar e buscam esta ajuda. No entanto, os resultados da fertilização de óvulos congelados após os 40 anos já apresentam o comprometimento do tempo de existência dos mesmos. Mesmo assim, por vezes, é melhor ter alguma perspectiva do que nenhuma ou uma extremamente mais remota", defende a médica.

 

O congelamento é feito por clínicas de reprodução assistida que são anualmente fiscalizadas pela Anvisa a fim de observar a excelência do procedimento e se há o cumprimento para a preservação do material biológico congelado.

 

"O congelamento é um processo individualizado que precisa de aconselhamento de um especialista em reprodução assistida. Se existe histórico familiar de menopausa precoce, por exemplo, é preciso que a mulher faça avaliações antes dos seus 30 anos", explica o especialista em reprodução humana e diretor médico da Fertipraxis, Marcelo Marinho. 

 

Como é o congelamento passo a passo

O primeiro passo é a estimulação do ovário com medicações hormonais, injeções subcutâneas diárias por 2 semanas. Em seguida, são feitas entre 3 e 6 ultrassonografias de acompanhamento e ajustes necessários nas doses. 

 

Uma vez que os folículos estejam nos tamanhos adequados, acontece o próximo passo que é o amadurecimento dos óvulos. Cerca de 36h depois, é feita a coleta dos óvulos via transvaginal com sedação leve em um procedimento que dura cerca de 30 minutos.

 

"Os folículos aspirados são avaliados em laboratório para a identificação dos óvulos maduros e de boa qualidade morfológica para o congelamento em até 3h após a coleta. São óvulos que não perderão sua capacidade reprodutiva e nem envelhecerão pelo tempo de congelamento", afirma o especialista em reprodução assistida e diretor médico da Fertipraxis Roberto de Azevedo Antunes.

 

O resultado da fertilização com o óvulo congelado depende de diversos fatores, por isso ter óvulos congelados não é garantia de gravidez e sim uma possibilidade, visto que é preservada a idade morfológica na hora do congelamento. "É preciso levar em consideração que 50% da fertilização dependerá da história do espermatozoide, mas é um passo muito importante para a mulher não ter uma pressão biológica do tempo correndo contra ela", ressalta Maria do Carmo.

 

Congelamento de óvulos para pacientes em tratamento de câncer  

Outro caso no qual o congelamento de óvulos é indicado, segundo a especialista, é o congelamento de óvulos para mulheres que vão passar pela quimioterapia, radioterapia ou até mesmo por procedimentos mais invasivos no tratamento do câncer.  

 

Inclusive, recentemente o Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu que uma operadora de planos de saúde deveria custear o congelamento de óvulos de uma paciente que ia passar pelo tratamento do câncer como medida preventiva contra a infertilidade.

 

A decisão visa manter o direito da mulher à preservação da sua capacidade reprodutiva. No entanto, a paciente ainda precisará custear o armazenamento dos seus óvulos após a alta médica.

 

Com Informações Estados de Minas

Imagem: TV Assembleia