CPI da Equatorial escutou presidente do Sindicato dos Urbanitários

por Iury Aragão publicado 12/04/2023 12h55, última modificação 12/04/2023 12h56
Para Francisco Marques, demissões após a privatização inviabilizaram a qualidade do serviço

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), instalada na Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi) para investigar a má prestação de serviço por parte da Equatorial Piauí, ouviu nesta quarta-feira (12) o primeiro depoente. O presidente do Sindicato dos Urbanitários, Francisco Marques, que representa os trabalhadores da empresa, afirmou que a demissão de mais de 80% do antigo quadro da Eletrobrás é uma das grandes responsáveis pela má qualidade da energia fornecida aos piauienses.

 

O depoente falou que a política de recursos humanos da Equatorial Piauí, logo após a privatização, foi de demitir diversos trabalhadores com larga experiência nos quadros da Eletrobrás Piauí. Esses profissionais foram substituídos, em sua maioria, por funcionários terceirizados com pouco histórico de desempenho nas funções necessárias, recebendo remunerações menores e com alta taxa de rotatividade.

 

Algumas dessas condições, segundo Francisco Marques, fazem com que os antigos funcionários da Cepisa e da Eletrobrás Piauí não tenham interesse em trabalhar como terceirizados da Equatorial Piauí. Diante das oportunidades de emprego nas usinas eólicas e solares, a distribuidora de energia não consegue atrair os profissionais mais experientes.

 

O líder sindical acredita que a Equatorial Piauí tem ciência dessa deficiência de pessoal. Um sinal disso é que tem feito uma recontratação de alguns funcionários que foram demitidos logo após a privatização. “Eles fizeram uma jogada de tirar as pessoas que estão custando caro para a empresa, dá um tempo com a terceirização e depois a gente reprimariza com um salário menor. Tanto é que anunciaram agora o acordo com o Maranhão e o Pará reduzindo o piso alegando que ele reduz a possibilidade de reprimarização”, explicou Francisco Marques.

 

Perguntado pelo deputado Gessivaldo Isaías (Republicanos) sobre as regiões do estado com pior atendimento, o presidente do Sindicato dos Urbanitários citou o Sul do Piauí. Na cidade de Corrente ele afirmou que houve uma redução de oito equipes para apenas uma, que atende municípios em um raio de 250 km. Além disso, a gestão da distribuidora ficou centralizada apenas em Teresina e Floriano.

 

Informações sobre o contrato que rege a prestação de serviços da Equatorial Piauí foram solicitadas pelo presidente da CPI, deputado Evaldo Gomes (Solidariedade), Simone Pereira (MDB) e Gracinha Mão Santa (Progressistas). Em sua resposta, Francisco Marques falou que nunca conseguiu ter acesso ao mesmo e que, em todas as vezes que buscou, a distribuidora afirmou que havia informações estratégicas que não poderiam ser compartilhadas.

 

Outras dificuldades pelas quais passam os funcionários da Equatorial Piauí foram tratadas no depoimento. Provocado por Simone Pereira e Nerinho (PT) sobre o aumento dos acidentes de trabalho, o sindicalista indicou a consulta à Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA) da empresa, mas acredita que as condições laborais deterioradas devem ter provocado um aumento.

 

A falta de qualificação foi outro tema da CPI. Wilson Brandão (Progressistas) fez perguntas e Francisco Marques afirmou que a mudança de visão voltada ao lucro dos acionistas no lugar de uma focada nos consumidores prejudicou a manutenção dos trabalhadores mais experientes.

 

Outra consequência dessa mudança foi o aumento na tarifa de energia. Perguntado por Nerinho sobre o assunto, o sindicalista disse acreditar que ela subiu entre 60% e 70% desde a privatização, realizada em 2018.

 

Além das informações prestadas, o depoente apresentou as sugestões de a CPI cobrar da Agrespi (Agência Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do Estado do Piauí) apoio na fiscalização do contrato de privatização e um levantamento de reclamações da população feitas em Promotorias e Rádios Comunitárias por todo o estado.

 

A deputada Gracinha Mão Santa colocou no debate esses problemas que acontecem nas menores cidades e nas periferias das maiores, citando as dificuldades para fazer novas ligações e combater as gambiarras.

 

 

Nícolas Barbosa - Edição: Iury Parente