Alepi recebe lideranças indígenas em audiência pública
"Se a gente não se unir para proteger a vida dos povos indígenas, a gente vai celebrar a morte dos nossos irmãos dentro dos museus que os não indígenas criam para imortalizar a violência causadas por eles?", questionou Seribi Tucano, representante da União Plurianual dos Estudantes Indígenas (UPEI) em audiência pública realizada na Assembleia Legislativa do Piauí (Alepi) na manhã desta segunda-feira (28).
O evento, organizado a pedido do presidente da Casa, Franzé Silva (PT), teve como objetivo debater a demarcação de terras, a educação e a saúde indígena. Diversas lideranças se fizeram presentes e tiveram como críticas mais comuns o avanço do agronegócio e a omissão do Governo do Estado, tanto no que se refere à demarcação quanto ao preconceito contra a medicina indígena e por não haver uma política de educação.
Sávio Tabajara, da Aldeia Oiticica, em Piripiri, leu a Carta dos Povos Indígenas do Piauí, a qual trouxe alguma reivindicações, como para que seja iniciado o mais rápido possível a demarcação das terras, a criação de um Distrito Especial de Saúde Indígena e de uma política escolar indígena, a realização de consulta prévia antes de qualquer ação em suas comunidades e fornecer proteção aos que sofrendo ameaça de morte.
Sávio Tabajara cobrou que as instituições públicas atuem para que os direitos sejam preservados e efetivados, embora veja que o racismo estrutural do Estado atua contra os povos originários. “É preciso que o Estado do Piauí deixe de ser um Estado racista, deixe de ser um Estado opressor. Quando a comunidade se levanta para dizer que está sofrendo, o próprio governo, seja municipal ou estadual, vai lá tentar minimizar essa liderança”, afirmou.
Durante a audiência pública, o avanço do agronegócio foi bastante criticado, com os convidados dizendo que há uma proteção a esses empresários enquanto há invasões aos territórios indígenas e a polícia tem atuado de maneira violenta contra os povos originários. “Nós estamos foragidos nos nossos próprios territórios. [...] Vamos dar continuidade nesse esforço de termos nossos territórios demarcados. Deixar de tanto sofrimento, nós precisamos fazer cultura na terra, não é só o latifundiário”, disse Salvador Gamela.
O deputado estadual Francisco Limma (PT) elogiou o conteúdo da Carta dos Povos Indígenas do Piauí e disse que a luta deve continuar, pois são muitas forças atuando e não se pode esmorecer. Edson Kayapó, representante do Parlamento Indígena do Brasil, disse que eles sempre estiveram abertos ao diálogo e que “respeitosamente têm batido nas portas pra dizer que queremos diálogo, não só em favor dos nossos direitos, mas para a continuidade da vida no planeta. Mas é preciso dizer que nossos antepassados mandaram dizer que se eles não quiserem diálogo, nós vamos arrombar as portas e fazer na marra”.
No evento, para a mesa de debate, estiveram presentes 19 representações. Entre os deputados, além de Francisco Limma, participaram Evaldo Gomes, presidindo a audiência pública, Fábio Novo (PT) e Elisângela Moura (PCdoB).
Iury Parente - Edição: Katya D’Angelles